O único filme brasileiro que recebeu o prêmio máximo do mais
importante festival de cinema do mundo (Festival Internacional de Cinema de
Cannes) está completando 50 anos.
O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, baseado na peça
homônima de Dias Gomes, conta a história de Zé do Burro, um homem que vive numa
pequena propriedade rural. Um dia, o burro de estimação de Zé é atingido por um
raio e ele vai a um terreiro de candomblé fazer uma promessa para que Santa
Bárbara/Iansã salve o animal. Quando o animal se restabelece, Zé começa a
cumprir sua promessa: doa metade do seu sítio e parte carregando nas costas uma
cruz de madeira para depositar na igreja da santa em Salvador.
Os filmes brasileiros da época eram musicais e comédias que
ficaram conhecidos como chanchadas, e, com o advento da televisão, esses temas
passaram a fazer parte da programação da TV.
Anselmo Duarte morou muitos anos fora do Brasil e quando
retornou tinha a intenção de fazer um filme sério, diferente dos que eram
produzidos até então.
A primeira opção foi Madona do Cedro, de Antonio Callado,
porém a cessão dos direitos cinematográficos já tinha sido negociada.
Dias Gomes estreou O Pagador de Promessas no Teatro
Brasileiro de Comédia e já havia prometido a Flávio Rangel a cessão dos seus
direitos cinematográficos, mas Anselmo conseguiu convencê-lo a lhe dar essa
cessão de direitos.
Anselmo queria Odete Lara como a prostituta Marli e Miguel Torres
como Zé do Burro, mas a atriz declinou do convite.
A atriz Maria Helena Dias viveria a Rosa, porém uma
pneumonia a afastou das filmagens. No seu lugar entrou Glória Menezes, que a
princípio faria o papel da prostituta Marli, que foi vivida por Norma Bengell.
Leonardo Vilar vivia o Zé do Burro no teatro, mas Anselmo
disse que o papel no cinema não lhe servia pois ele estava muito forte e o
personagem era de um magro camponês que passava fome. Leonardo emagreceu 12
quilos em um mês e viveu o personagem. Foi seu primeiro papel no cinema.
Diferente do Oscar que é apresentado em uma única noite, o
Festival de Cannes dura 11 dias. Não é só premiação, atores e diretores vão
para promover, vender e divulgar seus trabalhos.
Os filmes são apresentados em duas sessões, uma diurna e
outra noturna. Na primeira exibição o
filme foi muito elogiado. Na sessão noturna o filme foi aplaudido várias vezes
e quando terminou era unânime o comentário “c’est le grand prix”. O filme
vencedor já tinha sido escolhido. O longa-metragem concorreu com outros 70
filmes de 36 países.
Em 1963, O Pagador de Promessas foi indicado ao Oscar de
melhor filme estrangeiro. Foi a primeira indicação do Brasil na premiação.
A Palma de Ouro foi instituída em 1955. Desde 1946, quando
aconteceu pela primeira vez, o Festival distribuía o Grand Prix do Júri ao
vencedor.
O filme é reverenciado até os dias de hoje nos festivais
internacionais de cinema. Mario Abbade,
presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro se ressente
pela forma como o filme é tratado no Brasil e diz que O Pagador de Promessas
deveria ser matéria obrigatória em todas as faculdades de cinema do país.
Em 1988, a Rede Globo exibiu a minissérie O Pagador de
Promessas em oito capítulos (seriam 12, mas, por abordar temas como a reforma
agrária, sofreu cortes da Censura Federal), com José Mayer e Denise Milfont nos
papéis principais.
Lançado em 1959, o livro está na 36ª edição e foi o trabalho
mais premiado de Dias Gomes.
Publicado no jornal O Debate Rio das Ostras em 01/06/2012
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