Com letras e músicas de grande beleza e sentimentos,
Lupicínio Rodrigues descreve a perda de um amor como ninguém. Ele é o cantor da
dor de cotovelo.
Gaúcho de Porto Alegre, a chuva foi testemunha do seu
nascimento em 1914 e da sua morte em 1974.
A estreia musical de Lupi (apelido que recebeu na infância)
se deu no Bloco do Moleza, aos 13 anos de idade, com a marchinha Carnaval que
venceu o Concurso Oficial promovido pela Prefeitura de Porto Alegre em 1933.
Durante o ano, o Bloco do Moleza tinha o nome de Bandinha Furiosa e Lupi era o
cantor do grupo, formado por músicos que tinham, todos, pelo menos 20 anos mais
que ele.
Em 1939, Ciro Monteiro gravou Se Acaso Você Chegasse, música
que além de ser um dos raros sambas animados de Lupi, a letra é baseada em fatos
reais. Conta-se que foi a maneira que Lupicínio encontrou de contar ao amigo
Heitor de Barros que tinha perdido a namorada para ele.
Lupi deixou Porto Alegre e veio para o Rio de Janeiro. Fez
amigos na cidade, mas voltou para sua terra natal trabalhar como funcionário
público.
Em 1947 Francisco Alves gravou Nervos de Aço, oito anos
depois de ter conhecido Lupi e prometer que gravaria uma música sua.
Aos 33 anos de idade, aposentado por uma doença inexistente,
ficou famoso e abriu a primeira das muitas casas noturnas que teve, que ficou
conhecida como Galpão do Lupi. Foram cinco casas entre restaurantes e bares.
Tornou-se também representante regional da SBACEM (Sociedade Brasileira de
Autores, Compositores e Escritores de Música), onde atuou por 28 anos.
Em 1951, Linda Batista gravou Vingança, que teve versão em
espanhol gravada em ritmo de tango. Conta-se que amantes infelizes cortaram os
pulsos ao ouvir a música.
Logo depois, Linda Batista gravou Volta e sua irmã, Dircinha
Batista, gravou Nunca. A partir daí, nos próximos 10 anos, Lupicínio foi um dos
maiores e mais prestigiados compositores do país.
Lupi escreveu o hino do Cinquentenário do Grêmio Football
Porto Alegrense, o seu time do coração, e a letra surgiu numa época de greve
dos bondes – “até a pé nós iremos/para o que der e vier...” O resultado foi tão bom que se tornou o hino
oficial do clube.
Em 1953, Porto Alegre passou a ser chamada de A Capital do
Samba Canção pela procura de vários cantores para gravar as músicas de Lupi e
compositores em busca de parcerias.
Jamelão era crooner da Orquestra de Severino Araújo e numa
viagem a Porto Alegre quis conhecer pessoalmente o autor das canções que ele
cantava. Ficaram amigos e a partir daí ele se intitulou o intérprete oficial de
Lupi, permanecendo assim até sua morte em 2008.
Com o surgimento da Bossa Nova, Lupi ficou “esquecido”. Entre 1962 e 1963, Lupi escreveu uma coluna
aos sábados para o jornal Última Hora, onde fazia análise de suas composições.
Em 1971 João Gilberto retornou ao Brasil depois de viver
vários anos no exterior, e gravou um programa na TV Tupi onde cantou a música
Quem Há de Dizer. Na edição final do programa, a música foi cortada, mas foi o
sinal que Lupi estava de volta.
Em 1973, Gal Costa gravou Volta, Paulinho da Viola gravou
Nervos de Aço e Caetano Veloso gravou Felicidade. Logo depois, Elis Regina
gravou Cadeira Vazia e Bruno Barreto colocou a música Esses Moços como tema do
filme A Estrela Sobe.
Lupi fez shows em São Paulo e no Rio de Janeiro, foi capa de
O Pasquim e era cultuado por jornalistas, intelectuais, boêmios, jovens de
classe média e universitários.
Em 1994, a cantora Joanna gravou um álbum com músicas de
Lupicínio que foi sucesso de crítica e público, vendeu 400 mil cópias.
O cartunista Chico Caruso e a cantora Eduarda Fadini
apresentam desde 2008 o espetáculo Lupicínio – Uma paixão. A última
apresentação foi em março passado.
Publicado no jornal O DEBATE RIO DAS OSTRAS em 20/07/2012
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