sexta-feira, 27 de julho de 2012

UM VERÃO DA LATA


Uma piada do destino...
Em agosto de 1987 o navio panamenho Solana Star estava em águas brasileiras com um carregamento de 22 toneladas de maconha que havia sido carregada em Cingapura e seria levada aos Estados Unidos, passando pelo Rio de Janeiro e transferida para embarcações menores.
Os tripulantes, suspeitando do monitoramento do navio pela agencia de combate as drogas dos Estados Unidos – DEA despejaram no mar, próximo à Angra dos Reis, a carga em torno de 15 mil latas, recheadas de maconha com mel. Dias depois, as latas emergiam nas praias do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A Polícia Federal brasileira só chegou ao navio em setembro, quando já estava ancorado no Rio de Janeiro e da tripulação só restava o cozinheiro, que foi preso, condenado a 20 anos de prisão e extraditado um ano depois.
A partir da aparição das latas, várias histórias começaram a ser contadas, músicas foram compostas, livros foram escritos, filmes e vídeos estão na internet com depoimentos hilários sobre o episódio.
Nos livros NOITES TROPICAIS E VALE TUDO, Nelson Motta conta que na época era raridade encontrar a droga no Rio de Janeiro e diz que “o milagre aconteceu”. A qualidade da droga era muito superior à distribuída por aqui, e a expressão “é da lata” se tornou sinônimo de coisa boa.
Na biografia de Tim Maia, Nelson conta que o cantor ordenou ao seu secretário que comprasse todas as latas que pudesse, porém ele só conseguiu três latas.
Conta-se que uma socialite carioca, numa festa em São Paulo, teceu elogios à qualidade da erva e solicitou a melhoria no padrão do produto oferecido pelo tráfico carioca.
O roqueiro Serguei conta que viu vários ônibus lotados de surfistas em Saquarema. A galera voltava prá casa com a prancha debaixo de um braço e uma lata debaixo do outro. Era muita gente e muita lata, conta o roqueiro que garante não ter fumado nada.
Um caseiro de Monsuaba, próximo a Angra dos Reis, escondeu em casa cerca de 300 latas, Foi preso e processado.
Em janeiro de 1988 aconteceu o Hollywood Rock, onde se apresentaram The Pretenders, Simple Minds, Duran Duran, Simply Red, Supertramps e UB40, além dos brasileiros Lulu Santos, Marina, Titãs, Paralamas do Sucesso e Ultraje a Rigor. O vocalista do UB40, Astro, subiu ao palco carregando uma lata e falou num portugês enrolado “muito jererê prá vocês”.
Moraes Moreira também posou com uma lata na capa do disco República da Música, lançado em 1988. Até Roberto Carlos compôs no mesmo ano a música “Tô chutando lata”.
No disco Psicoacústica do Ira, gravado em 1988, considerado um disco ousado e visionário para a época e tido como um dos melhores discos da história do rock brasileiro, não houve música de trabalho, pois segundo o vocalista Nasi, eles estavam usando muito o produto da lata.
O poeta Chacal escreveu o poema “A Lata” (da lata/sai o gênio da fumaça/que do mar veio para a areia) que foi recitado no disco “Da Lata”, de Fernanda Abreu, em 1995.
O bloco carnavalesco Suvaco do Cristo desfilou em 1988, com um samba composto por Lenine e Bráulio Tavares que dizia na letra “a lata que vem do mar/é presente de Iemanjá/prá esse ano que inicia”.
No filme O DIABO A QUATRO, de 2004, o ator Jonathan Haagensen, vencedor do prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival de Brasília, vive um traficante carioca às voltas com as latas surgidas na praia.
Wanderley Rebello Filho conta no livro 1988 O VERÃO DAS LATAS DE MACONHA a história e todo o procedimento do julgamento de Stephen Shelkon, o cozinheiro do Solana Star.
A jornalista Scarlett Moon fez um mapeamento do Rio de Janeiro, especialmente do Posto 9, e conta histórias, inclusive a da lata, no livro AREIAS ESCALDANTES.
Em 2005, o professor da PUC-SP e psicanalista Oscar Cesarotto lançou o livro VERÃO DA LATA, criado a partir da ficção em torno do acontecimento.
Claudio Manoel, um dos cassetas e autor do documentário Ninguém sabe o duro que dei, pretende fazer um documentário em torno da historia das latas e comenta que “além de aparecer em grande quantidade, devidamente enlatada e do nada, a danada não era só da boa, era da ótima!”
Em janeiro de 2013, o diretor Tocha Alves pretende lançar o documentário que também terá o nome de Verão da Lata, já em fase final de filmagem.
O diretor e roteirista João Falcão também pretendia filmar o Verão da Lata, mas como já existem 03 projetos em andamento, ele deseja criar uma série para a televisão.
No próximo dia 31 de julho, terá o lançamento do livro VERÃO DA LATA do jornalista Wilson Aquino, que se dispôs a recontar a história das latas.
A polícia federal recuperou 2563 latas, 20 ou 30% do que foi lançada ao mar.
O resto? Virou fumaça...






Publicado no jornal O DEBATE RIO DAS OSTRAS em 27/07/2012

Esse é o texto integral da coluna, o texto publicado foi condensado.

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