sábado, 12 de maio de 2012

Lucinha Araujo


Quando a gente tem um sonho, por mais difícil ou inatingível que ele possa ser, sempre encontra motivos para lutar. Imbuída desse espírito, Lucinha Araujo transformou a dor da perda de seu único filho em luta pelas crianças portadoras do vírus da Aids.
Após a morte de Cazuza aos trinta e dois anos em 1990, Lucinha criou uma ONG que recebeu o nome de um show realizado na Praça da Apoteose – VIVA CAZUZA, onde vários amigos do cantor se reuniram para homenageá-lo.
O livro O TEMPO NÃO PÁRA encerra a trilogia que teve início com SÓ AS MÃES SÃO FELIZES e PRECISO DIZER QUE TE AMO.
O primeiro livro lançado em 1997, uma biografia do cantor, vendeu mais de cem mil exemplares e foi transformado em filme sob a direção de Sandra Werneck e foi o filme brasileiro mais assistido em 2004.
Preciso Dizer que te Amo lançado em 2001, reúne letras, poesias e fotos de Cazuza. A obra do artista é mostrada em ordem cronológica e com a relação de todos os artistas que gravaram suas músicas. Codinome Beija flor teve mais de vinte gravações por diferentes cantores da música popular brasileira, da música sertaneja ao samba, e foi gravada em versão instrumental por Richard Claydermann. A música teve ainda uma versão italiana chamada “Soprennome Colibri”.
Em O tempo não Pára, Lucinha conta suas atividades na Sociedade Viva Cazuza. A casa onde vivem as crianças, em Laranjeiras, foi cedida pelo então prefeito Cesar Maia e durante esse tempo que existe, já abrigou setenta e cinco crianças soropositivas, três delas vieram a óbito em decorrência da doença e duas foram adotadas, sendo que uma já teve a carga viral negativada. Além das crianças existe o Projeto de Adesão ao Tratamento para cento e quarenta pacientes adultos.
No livro, Lucinha conta a história de vida de várias crianças que são atendidas pela ONG (todas são citadas com nomes fictícios).
Uma criança da ONG teve seu ingresso numa escola particular negado após ter feito todos os testes e passado. O preconceito surgiu quando, no ato da matrícula, o pagamento foi feito com um cheque da Viva Cazuza. Foi feita uma queixa na polícia, a notícia foi publicada nos jornais, veiculada na TV e o Juizado de Menores foi notificado. A escola voltou atrás e resolveu aceitar a aluna, mas a oferta foi recusada por medo que a criança sofresse alguma represália.
Depois do acontecido, em 2000, foi aprovada uma lei da deputada estadual Solange Amaral, que previa pena (uma multa no valor de cinco a dez mil UFIR’s, duplicada em caso de reincidência), para quem praticasse atos preconceituosos contra portadores de HIV no estado do Rio de Janeiro. Em contrapartida, uma senhora ao ver as crianças da ONG brincando numa praça, perguntou se a entidade recebia crianças que não fossem soropositivas. A felicidade estava estampada no rosto de cada uma delas.
A Sociedade Viva Cazuza trouxe a Lucinha Araujo razões para seguir em frente depois de perder o filho. Foi chamada de “mãe coragem”, mas rejeita o título.
Durante esse tempo de existência da ONG, Lucinha salvou crianças de várias idades, mas ela diz que foram as crianças que a salvaram, pois em cada mãozinha, em cada sorriso, em cada brincadeira ela vê uma continuidade de Cazuza.









Publicado no jornal O Debate - Rio das Ostras em 11/05/2012

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